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Quinta da Murta “Inox” 2012. O lote – Post II

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Deixo de seguida algumas considerações sobre a prova dos vinhos referidos no post anterior.

Penso que serão úteis não só para entendimento das decisões que se seguirão, mas principalmente aos consumidores que, seguindo o nosso conselho, foram deixando guardadas umas “garrafitas” para usufruto futuro.

Optei por não abrir nem de 2005 nem 2006. Começam a faltar porque tenho andado a prova-las com frequência. Os motivos têm justificou.

Segue a prova:

Nota prévia: Na apreciação da visão, poderão notar algum contra-senso na afirmação de que se nota evolução na cor mas que ainda estão muito vívidos. A razão prende-se com o facto dos vinhos de Bucelas, apanhados nos nossos parâmetros de maturação, apresentarem quando novos, reduzida intensidade cromática e com os tons “esverdeados” muito presentes. Assim é natural que o amarelo mais marcado que ganham com alguns anos não seja muito maior do que muitos brancos novos de outras regiões.

Apreciação prévia: Foi o primeiro onde fizemos batonage em cuba. Ano de mostos muito saborosos. Desde que estou na Quinta da Murta, foi o ano de maior produção.

Visão: Cristalino, amarelo palha aberto, ainda bastante apelativo.

Aroma: Limpo sem marca de defeitos. Pede decantador para abrir todo o bouquet. A fruta deu lugar à intensidade mineral. Com tempo de copo, deixa aparecer alguma fruta amarela e um ligeiro toque que lembra fumo, mas que lhe advém provavelmente da evolução oxidativa.

Boca: Coincidente com o nariz. Muito estruturado. Por vezes a mostrar um ligeiro toque láctico que lembra queijo.

Colheita 2008

Apreciação prévia: Ano médio/bom, com produções razoáveis e mosto limpos, correctos e com intensidade boa. Nenhuma alteração na enologia excepto optimização da batonage.

Visão:Limpo e cristalino. Amarelo a denotar alguma idade, contudo muito vibrante ainda.

Aroma:Mineral. Ligeiro toque de forsforo. Sensações ligeiras de maracujá. Sem traço de defeito. Limpo e com uma complexidade um pouco menor que o 2007. Algumas sensações de Tilia. Elegante.

Boca: Acidez forte. Alguns amargos ligeiros. Estrutura média menor que o 2007 (justificada por uma menor incidência de batonage), mas com uma ligeireza que faz dele um vinho mais elegante.

Colheita 2009

Apreciação prévia: Ano de mostos ricos e concentrados. Trabalho de enologia semelhante ao 2008.

Visão: Claro e cristalino. Amarelo com ligeiros tons de verde no bordo.

Aroma: Citrino e mineral. Fresco e aroma de intensidade comedida. Sem sinal de defeito.

Boca: Acidez boa, sem ser muito forte. Corpo com muito equilíbrio e notas de tília bem presentes. Qualidade geral boa. Balanceado.

Colheita 2010

Apreciação previa: Ano difícil na adega. Muitos problemas técnicos a requerem maior esforço e empenho da equipa. Mostos de qualidade média/boa. Não houve alteração nas questões enológicas.

Visão: Limpo e cristalino. Cor mais carregada do que o 2009.

Aroma: Aroma de frutas de polpa branca como maçã e ameixa. Notas de tília bem presentes. Intensidade média, sem grandes desenvolvimentos minerais.

Boca: Corpo médio e balanceado. Harmonia entre os componentes. Acidez media em equilíbrio.

Colheita 2011

Apreciação prévia: Grandes dificuldades na vinha. Muita doença e perca de parte maioritária da produção. Os mostos resultantes saíram muito ricos e concentrados. Alteração das colagens para proporcionar maior vida ao vinho.

Visão: Cor muito clara. Amarelo pálido com toques esverdeados. Cristalino. Brilhante…. Fantástico.

Nariz: Floral intenso (flores campestres). Mais intenso que os anteriores. Complexo. Depois de algum tempo de copo, aparecem as notas de fruta. Ainda sem notas minerais intensas.

Boca: Boa estrutura, boa acidez, equilíbrio com a boca a confirmar inteiramente o nariz..

Apesar de já ir longo, este post carece ainda de uma ou duas considerações:

  • Esta vertical permitiu confirmar o carácter evolutivo da casta. A forma como os aromas, conhecidos comummente como primários (frutos e flores – por virem da uva) passam com o tempo para o desenvolvimento da mineralidade (aroma terciário - vem do estágio), passando algumas vezes, associado à incidência da batonage, pelos aromas cremosos e lácticos retirados à levedura (aromas secundários – vêm da fermentação).
  • Os vinhos provados apresentam-se de perfeita saúde (assim como os de 2005 e 2006, provados recentemente), demonstrando a capacidade da casta, na região, para a produção de vinhos pensados para evoluir com o tempo.
  • Existem diferenças mais ou menos significativas entre as colheitas, tal como se previa e pretendia (o respeito pelas singularidades dos anos), mas a identidade do Arinto, de Bucelas e principalmente da Quinta da Murta é, francamente notada.

Para o próximo post, a prova e a construção do lote dos vinhos aptos ao Quinta da Murta inox 2012.

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